domingo, novembro 27, 2005

Tu, só tu....

Peço ao Inverno que te leve
Minha alma arrefece no canto…
Meu pranto de neve fria…. Sombria minha alma
De mil vozes assustada
Por vezes encantada pelo teu canto no deserto de meus dias…

Morreste-me num dia frio
Ao luar de Janeiro, desta vez sombrio….

Acordarei, talvez, quando em mim acenderes de novo
O pavio do meu sorriso….
Quando acenderes de novo
O rastilho da minha loucura…
Quando…. Quando for hoje…. Quando…. Quando for agora….
Vem amor…. Sem demora…. Porque ainda sinto teu gosto…. Ainda desenho o teu rosto
Na espuma das ondas vadias, numa praia, de um ocidente qualquer…
No rebentar das ondas em todas as areias a poente de meu ser….

Vem…. Porque agora, não é tarde demais…. Vem… porque hoje espero por ti….
Espero mim…. Espero por nós….
Como sempre esperei….
Vem…. Também… Porque além, somos só nós dois…. Melhor, nós três…. sim!
Nós três….
…. Tu, eu e tu sabes quem….
Poeta_poente

sábado, novembro 26, 2005

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide!
Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio

domingo, novembro 20, 2005

Noite interminável

O que fazer quando as noites nos parecem intermináveis?

O que Fernando escreveu há quase um século faz-me companhia.

Canto de poesia

Troveja lá fora….
Canto de sereia que ecoa na cidade.
O trovão vem do mar…
Atrai, assusta, acorda…
Chove…. Torrencialmente…. Não há luar!
Quero sê-lo…. Quero tê-lo…. Quero dar este trovão que há dentro de mim.
Resposta ao relâmpago de ti.
Não vens…
Porque haverias de vir…. Porque o haverias de sentir?
Desfaço-me na água que inunda celeste as ruas da cidade dormente.
Pois hoje sou trovão, clarão, relâmpago, água divina, dilúvio, poeta….
..um cometa…. Cadente, carente por te encontrar.


Escrito numa noite diluviana na grande cidade do sul, por entre raios e trovões, onde me encontrei.