sábado, abril 25, 2009

O príncipe e a gaivota

A Ianita fala no blog dela de que nem só de amor fala a poesia. Nem só de amor vive a poesia.
Eu, ao início, li desconfiado, mas dou-lhe razão. Há muito mais na poesia para além da dicotomia enamoramento vs desgosto. Há na poesia e nas palavras em geral uma força que move montanhas, um poder que derruba governos, destrói relacionamentos, cria sentimentos, momentos e ilusões.
As palavras devem ser bem tratadas como dizia Nietzsche, "coisa feia a palavra maltratada". Há nelas o dom de fazer sorrir e de arrancar lágrimas mas, e há sempre um mas, o que seriam essas mesmas palavras sem o seu eco?
Sim, o eco que provocam em nós e que só é possível se formos sensíveis a elas. Será que o que realmente a poesia demonstra, o verdadeiro poder das palavras não é o facto de suscitarem em nós o que mais queremos esconder? O que mais tentamos afastar no dia a dia?
Exemplificando, que valor terá para alguém ouvir um "amo-te", se não o sentir igualmente?
Na verdade, a palavra pode ser embaraçante pois pressupõe uma resposta, mesmo que não façamos uma pergunta. A poesia, também ela procura um eco, seja ela amorosa ou uma arma política. Que força teria a música de José Afonso nos dias de hoje? Que impacto tem o Grândola Vila Morena numa sociedade em que a nova geração usa e abusa da liberdade, confundindo-a muitas vezes com libertinagem?
Os sentimentos esses são eternos, e julgo ser por isso que a poesia amorosa tem sempre mais "adeptos" que qualquer outro tipo de poesia.

A minha ronda por blogues fez-me pensar nisto. Refiro o da Ianita, mas muitos foram os outros que li.
Hoje, dia 25 de Abril, mais que o significado político, acho que devia ser um dia de balanço. Um dia para pensarmos naquilo que já temos e em tudo o que de errado fazemos. Um dia para pensar que dentro de nós todos somos livres. Que podem amordaçar-nos e atar-nos as mãos e os pés, jogar-nos areia para os olhos e dizer que vivemos numa democracia, mas os nossos sentimentos são livres. Livres para amar.
Hoje, dia 25 de Abril, devíamos todos ser um misto de "Principezinho" e "Fernão Capelo Gaivota". Liberdade para sentir, liberdade para viver. Nesse sentido sim eu grito, 25 de Abril Sempre!

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