terça-feira, janeiro 06, 2009

Sem Ti (R) - capítulo IV

- Amor, temos que comprar pasta de dentes!

Não respondo. Tenho perto de 30 anos e nunca foi esta a vida que desejei para mim.
Quando era adolescente tinha sonhos. Olhava o calendário e o ano de 2009 estava cheio de sorrisos, desejos concretizados, amor, muito amor, filhos, e um gato.
Não tenho nada disso. O alarme tocou e eu acordei nesta casa despida de certezas e mobilada com todas as minhas dúvidas existenciais.
Tinha acabado de fazer amor, estava a chorar e a minha companheira dizia-me que era preciso comprar pasta de dentes. Onde está tudo aquilo que ambicionei?

Levanto-me do sofá, visto-me, acendo um cigarro e vou até à varanda.
Joana segue-me, primeiro com os olhos, depois com um toque no ombro, abraça-se a mim.

- Preciso falar contigo amor.
- Fala...
- Tenho uma coisa para te contar...
- Sempre conseguiste falar com a tua mãe?
- Não, mas não é isso.
- Então estás à espera do que? Há coisas que não podemos adiar. Vai lá telefonar-lhe
- Já telefono, espera.
- Não espero nada! Vai telefonar, ou mais uma vez vou ter que ser eu a tratar do assunto??
- Vai-te à merda... és uma besta!
- Desculpa... Desculpa... não ligues, ando com umas cenas na cabeça.
- Oh amor, fala comigo.

Puxo uma passa, afasto o olhar e as mãos dela. Olho a lua cheia... como explicar a esta pessoa que sempre me apoiou em tudo, que sempre esteve do meu lado e me deu a mão quando eu estava de rastos, que o meu coração nunca tinha sido nem nunca seria dela? E mais, que a sua verdadeira dona estava ali bem perto, no T1 do número 34...

- Deixa... o que me querias contar?
- Estou grávida....

4 comentários:

Miepeee disse...

Isto vai acabar mal...vai vai.
Bj.

Ianita disse...

Tudo Muda uma Áspera Mudança

Tomava Daliana por vingança
Da culpa do pastor que tanto amava,
Casar com Gil vaqueiro; e em si vingava
O erro alheio e pérfida esquivança.

A discrição segura, a confiança
Das rosas que o seu rosto debuxava,
O descontentamento lhas mudava,
Que tudo muda uma áspera mudança.

Gentil planta disposta em seca terra,
Lindo fruto de dura mão colhido,
Lembranças de outro amor e fé perjura,

Tornaram verde prado em dura serra;
Interesse enganoso, amor fingido,
Fizeram desditosa a formosura.

(Luís Vaz de Camões)

Ainda assim, mesmo porque "Tornas-te eternamente responsável por aqueles que cativas"... ainda assim... nada muda.

SRRAJ disse...

Uiiiiii... Toca a escrever o resto, que fiquei curiosa.
Beijo

M disse...

Breath Taking...
É quando o corpo se preenche de adrenalina e o sinal vermelho não pára de piscar perante o espanto e o pânico!